sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão Mt 3,9




João Batista é um sujeito realmente enigmático. Ele possuía uma personalidade marcante merecendo realmente o título que recebeu: profeta. Mateus 3,1-12 fala sobre João Batista no desempenhar de sua pregação. Ele pregava dizendo “arrependei-vos, pois, o Reino do Céu está próximo” (2), tinha como missão preparar o caminho do Senhor (3), e suas roupas (4) lembravam o profeta Elias (2Rs 1,8). De fato, estava previsto que Elias viria, “antes que chegasse o dia de iahweh” (Ml 3, 23), João Batista, portanto, cumpre tal profecia.

João Batista foi um autêntico profeta que, assim como os demais profetas do Senhor, foi perseguido pelo povo de israel. É importante ressaltar que os doutores da lei possuíam o conhecimento das escrituras do antigo testamento, inclusive esta citada acima, assim como as demais que previam a vinda do Salvador. Eles viviam uma certa expectativa da vindo do messias, pois quando ocorreu a visita dos magos (Mt 2.6) eles souberam dizer que o messias nasceria em Belém. Porém, mesmo diante das claras profecias, eles terminaram por matar João Batista e Jesus.

Estes mesmos fariseus e saduceus se vangloriavam por serem descendentes de Abraão, personagem importante do antigo testamento que foi o primeiro patriarca do povo de Israel, no qual Deus abençoou com uma posteridade tão numerosa quanto as estrelas do céu (Gn 15,5-6), e o seu nome significa “pai de muitos povos”.

João surpreende-nos quando, no versículo 9, diz aos fariseus e saduceus: “não penseis que basta dizer: ‘temos por pai Abraão’. Pois eu vos digo que mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão”. Pode-se dizer que hoje muitas pessoas têm pensamentos semelhantes aos dos fariseus e saduceus, afinal, quantas vezes ouvimos: “Eu vou a missa todo domingo minha parte já está feita”, ou então, “tenho fé, rezo para Deus em casa, isto basta”. Será que basta mesmo?



É pelo fruto que se conhece a árvore, é pelas obras que se conheça a pessoa! Assim, não pode uma árvore má produzir bons frutos. Logo, não podemos nos considerar árvores boas se não produzimos bons frutos pois é pelos frutos que a conhecereis (Mt 7, 16-20). Não é coerente nos considerarmos cristãos e não vivermos conforme viveu Jesus Cristo, já que Ele é o padrão moral para nossas ações, então precisamos nos espelhar Nele para cumprir a vontade de Deus.

É ilógico crermos que é possível ser um cristão apenas de fé, pois a própria revelação escrita no qual se baseia a fé (bíblia) diz sobre nossas obrigações para com o próximo, sobre como deve ser nossos comportamentos perante as situações da vida. Não é possível crer em Jesus Cristo sem se comprometer com os deveres que Ele deixou.



As grandes obras que podemos fazer estão nas coisas simples, mas que afetam enormemente a vida do nosso próximo: as obras de misericórdia! Dar pão a quem tem fome, de beber a quem tem sede, visitar os enfermos, dar bons conselhos a quem precisa, consolar os tristes, são algumas das grandes obras que devemos fazer em nosso dia a dia, e assim trazer mais consolo ao nosso irmão.



Diante do mal exemplo dos fariseus e saduceus aprendemos que não basta ser filhos de abraão nem ter fé em Jesus Cristo, é necessário que coloquemos nossa mão na massa e amemos ao próximo como a nós mesmos (Mc 12, 31), pois a fé sem obras é morta! (Tg 2, 20)

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Sagrada Família foge para o Egito

O Evangelho de São Mateus narra em 2,13-23 a fuga e o retorno da Sagrada Família ao Egito, devido ao fato de Herodes estar buscando o menino Jesus para matá-lo.


O massacre das criancinhas

Herodes, tirano perverso, mandou matar todas as crianças da região de Belém com menos de 2 anos de idade. Raquel chora seus filhos (18), pobres indefesos, vítimas do livre arbítrio desse bárbaro rei que temia perder seu trono. Isso nos mostra que nossas ações podem causas terríveis danos ao próximo. Essas crianças são consideradas os primeiros mártires cristãos e a liturgia tem espaço para sua memória no dia 28 de dezembro como “Os santos inocentes, mártires. ”


Os desafios da viagem

Foi uma árdua viagem. Imaginemos 20 dias de caminhada sendo a maior parte pelo deserto, no calor escaldante durante o dia e o frio durante a noite. Diz o evangelho que Jose tomou Maria e o menino durante a noite, e foram embora. Maria ainda era muito nova e já estava sofrendo as dores de ser a Mãe do Salvador. Foram cerca de 400 Km de viagem, rumo a uma terra estrangeira, com os perigos que já imaginamos: ladrões, temperaturas extremas, escassez de agua e alimentos, e ainda havia a inquietação de estarem sob ameaça de morte! E tudo isso com o menino Jesus ainda muito novo. Ele, desde cedo, já sofrendo as perseguições. A viagem não foi fácil, talvez Deus não nos poupa das tribulações justamente para ver até onde seremos fieis aos seus planos.


Porque fugiu?

O Deus menino rebaixou-se tanto à natureza humana que precisou fugir. Isso para nos mostrar que diante das perseguições não devemos nos entregar, pois, ás vezes, enfrentar o perseguidor de frente, a peito aberto, não é a melhor estratégia. De fato, Jesus diz “Quando, porém, vos perseguirem numa cidade, fugi para outra” Mt.10,23.


Porque o Egito?

O anjo manda fugir para o Egito onde antes o povo de Israel era escravo. Lá houve grande escravidão, donde Deus libertou o povo prometendo-lhes uma nova terra. O Egito passa de perseguidor a refúgio, e Jesus se refugia lá, levando a luz àquele povo pagão, e, como uma espécie de novo Moisés, ele retorna do Egito para Israel relembrando o êxodo da antiga aliança. De fato, o evangelista Mateus mostra Jesus como um novo Moisés, um novo legislador do povo.


Nossa Senhora do Desterro

Maria teve que ser forte nesse momento de exilio, pois ainda muito nova já estava sendo exposta ao desafio de fugir sem garantias para uma terra estranha e distante. Foi deste episódio que surgiu a devoção a Nossa Senhora do Desterro, padroeira dos que estão refugiados em outras pátrias, seja por motivo de trabalho, de fuga de guerras, etc. O Papa Pio X, quando da construção da Catedral de Florianópolis – SC, dedicou Nossa Senhora do Desterro como padroeira da cidade.


Fé e obediência de São José

São José é exemplo para nós! Já havia sido revelado para ele que o Menino era o salvador de todos os povos, mas agora o anjo os manda fugir? São José poderia, no mínimo, ter questionado sobre a divindade deste que não é capaz de salvar nem a si próprio. Mas não! Ele obedeceu, com fé, crendo nos desígnios misteriosos do Criador. Vejam que tanto na fuga quanto no retorno o Anjo aparece somente a ele, e em sonho. Na anunciação o anjo havia aparecido pessoalmente a Maria. A aparição em sonhos exigiu uma certa fé de São José, fé para confiar submeter-se a tamanhos perigos (a fuga ao estrangeiro) para atender ao pedido vindo de um sonho. José foi um exemplo de fortaleza, pois nesse momento de tribulação ele realizou seu papel de patriarca e “tomou o menino e sua mãe” (Mt 2, 14; 2,21) e os levou em segurança para o destino que Deus desejara.


Perseverança na paciência

O versículo 19 narra que o Anjo avisou a José o momento de voltar para a sua terra. No entanto, sabe-se que a Sagrada Família ficou no Egito por aproximadamente 4 anos. Pensemos em tudo que se passou na cabeça de José durante este tempo, que estava naquela terra estrangeira, tendo provavelmente que trabalhar para sustentar sua família, sendo o único que havia recebido a ordem do Anjo para se exilar. Deveria passar pela sua cabeça um desejo imenso de voltar para a casa. Ele poderia deixar tudo e ir embora, afinal o menino nem era filho biológico dele, porém, José era um “homem justo! (Mt 1, 19). Ele soube esperar, pacientemente, o momento em que Deus quisera que eles retornassem. Isso ensina para nós que, embora tudo nos tente a fazer as coisas do nosso jeito, é necessário esperar o tempo de Deus.


Que em todas as viagens inesperados ao deserto que a vida nos força a fazer, possamos imitar São José e “Tomar o Menino e sua Mãe” para nos acompanhar nos momentos de desafios e desesperos.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

A adoração dos magos do oriente




Façamos aqui uma análise do texto bíblico localizado em Mt 2, 1-12, onde lemos o episódio dos reis magos que prestam homenagens ao nosso Senhor Jesus Cristo.


 “¹ Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que vieram magos do Oriente a Jerusalém, ...”

Primeiramente a palavra mago era usado para designar pessoas sábias, e não este sentido esotérico de bruxaria que temos hoje. Os magos vieram de fora da região judaica, possivelmente da pérsia, logo, eram pagãos, os primeiros gentios a reconhecer a majestade de Jesus neste Evangelho. Mateus, que escreveu este Evangelho para os judeus convertidos ao cristianismo, quis enfatizar que a salvação trazida por Jesus não é somente para os herdeiros das promessas de Deus (os judeus), mas para todos os povos da terra (por isso os magos pagãos). De fato, já estava profetizado no salmo 72.10-11: “os reis de Társis e das ilhas vão trazer-lhes tributo. Os reis de Sabá e Sebá lhe pagarão tributo; todos os reis se prostrarão diante dele, as nações todas o servirão." 

“²...perguntando: ‘onde está o Rei dos judeus recém-nascido? Com efeito, vimos sua estrela no seu surgir e viemos homenageá-lo’. ³ Ouvindo isso, o rei Herodes ficou alarmado e com ele toda a Jerusalém. ”

Este comportamento dos magos presume que eles sabiam que o povo judeu estava esperando um messias, provavelmente tiveram acesso as escrituras do antigo testamento, assim como o eunuco etíope descrito em At 8, 27-28 que lia o profeta Isaias mas não compreendia. Herodes ficou alarmado porque temeu perder seu trono para o rei que nasceu, vendo isso os magos devem ter ficado confusos, afinal, os próprios judeus não sabiam sobre o nascimento do seu messias. Jesus é a luz que ilumina todos os povos, inclusive os pagãos.

4 E, convocando todos os chefes dos sacerdotes e os escribas do povo, procurou saber deles onde havia de nascer o Cristo. 5Eles responderam: ‘Em Belém, na Judéia, pois é isso que foi escrito pelo profeta...’. ”

Os escribas disseram que o messias nasceria em Belém, e acertaram. De fato, está escrito em Mq 5.2:  “Mas tu, Belém-Efrata, tão pequena entre os clãs de Judá, é de ti que sairá para mim aquele que é chamado a governar Israel. Suas origens remontam aos tempos antigos, aos dias do longínquo passado. ” Isso mostra que havia por parte dos judeus naquela época o conhecimento e a expectativa a respeito do Messias que haveria de vir, em contraste com a não aceitação de Jesus, e sua posterior condenação.

7Então Herodes mandou chamar secretamente os magos e procurou certificar-se com eles a respeito do tempo em que a estrela tinha aparecido.8 E, enviando-os a Belém disse-lhes: ‘Ide e procurai obter informações exatas a respeito do menino e, ao encontra-lo, avisai-me, para que também eu vá homenageá-lo’.  ”

Herodes desejava encontrar o menino para o matar, assim como já havia matado suas esposas e filhos, afim de preservar seu lugar como rei. Mandar soldados atrás do menino poderia não ser uma boa opção, por isso ele enviou os magos, do qual ninguém desconfiaria, para trabalhar em seu favor e encontrar Jesus sem levantar suspeitas. Herodes teve fé, acreditou fielmente na realeza de Jesus, afinal, se este fosse um menino qualquer não haveria necessidade para tamanha preocupação por parte de Herodes.

9A essas palavras do rei, eles partiram. E eis que a estrela que tinham visto no céu surgir ia à frente deles até que parou sobre o lugar onde se encontrava o menino. 10Eles, revendo a estrela, alegraram-se imensamente. ”

Essa intima relação com a estrela sugere que os magos eram também astrólogos, limitados, é claro, pelos conhecimentos da época. Há ainda quem vá além e, através de estudos históricos, sugira que eles eram descendentes de Set, terceiro filho de Abraão. Segundo esta teoria, Set teria transmitido uma profecia antiga de que uma estrela apareceria para sinalizar o nascimento de um Deus, e desde então gerações e gerações de magos teriam aguardado durante milénios, esperançosos, até a estrela aparecer. Isto é extraordinário!

11Ao entrar na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o homenagearam. Em seguida, abriram seus cofres e ofereceram-lhes presentes: ouro, incenso e mirra. ”

Os presentes que os magos ofereceram a Jesus possuem significados especiais: o ouro refere-se a realeza do menino. De fato, os reis costumavam possuir tronos, anéis, coroas, e até berços de ouro, logo, o ouro significa que Jesus é rei, mas como Ele disse: “meu reino não é deste mundo. ” (Jo 18.36). O incenso significa a sua divindade pois era comum queimar incenso aos deuses. Durante as perseguições do início da era cristã, os cristãos eram obrigados a queimar incenso ao imperador devido ao mesmo se considerar um deus, muitos se negaram a realizar tal ato tornando-se mártires. Por fim, mirra: óleo utilizado nos rituais de sepultamento. Significa a humanidade de Jesus e, especialmente, sua Paixão. De fato, foi usado mirra no sepultamento de Jesus conforme Jo 19,39.

12Avisados em sonho que não voltassem a Herodes, regressaram por outro caminho para sua região. ”

O plano de Herodes falha e os magos não revelam a localização do menino. Como vemos, o episódio se encerra sem dizer exatamente quem eram nem de onde vieram os magos. A tradição atribui a eles o título também de reis, há inúmeras pinturas que os ilustram como três reis sendo um jovem, outro de meia idade, e o terceiro já mais velho. E, segundo o Padre da Igreja São João Crisóstomo, eles foram posteriormente batizados pelo Apóstolo São Tomé.

Eram reis – O texto sagrado não diz claramente que eles eram reis, porém no vers. 3 nota-se que o rei Herodes e toda a população de Jerusalém ficaram alarmados com a notícia dos magos, afinal, eles já possuíam um rei (Herodes) e não sabiam de nenhum outro que viria a nascer. Isto sugere que o próprio Herodes os recebeu quando chegaram: esse tipo de “etiqueta” era comum entre os reis. É também pertinente salientar que estes magos não deviam ser pessoas comuns, afinal, todos acreditaram quando eles disseram que um rei havia nascido inclusive o próprio Herodes que ficou alarmado. Será que isso ocorreria se fossem simplesmente estrangeiros desconhecidos?



Resta-nos admirar esses nobres que que tiveram a oportunidade de presentear o Rei dos reis, nosso Senhor Jesus Cristo, e reconheceram nEle Sua divindade, Sua humanidade e sua realeza.